terça-feira, 4 de março de 2014

Mas o que é que tu queres fazer da vida, pá?

Quero ser treinadora de animais de companhia.
Mais especializada em cães.
E certificada, já agora.
E utilizando métodos de treino positivo, sempre!
"Mas o que é isso de treino positivo?" - perguntam vossas excelências com um ar admirado... ou de quem finge admiração porque já sabe mas não me quer estragar o post.
Treino positivo é, de uma forma simples, treino através de reforço positivo e castigo negativo.
"Qué?!" - Perguntam vocês outra vez... vá lá.
Reforço positivo é mais ou menos o mesmo que uma recompensa: o vosso animal faz uma coisa de que vocês gostam e vocês dão-lhe a sua bola preferida para brincar ou fazem um jogo de puxa ou dão-lhe um biscoito.
O que é que o reforço positivo não é: um suborno, um vício ou uma prova de que o vosso cão é interesseiro ( todos somos, deixem-se de coisas).
Castigo negativo é a subtracção de algo que o animal considera bom da sua posse ou arredores: o cão está a roer a carpete, o cão é retirado da sala onde está a carpete e confinado num espaço sem acesso a ela. Dez segundos mais tarde deve ser dado ao cão algo apropriado para ele roer afim de redireccionar a sua vontade de fincar o dente para algo que ele possa mastigar à vontade.
O que é que castigo negativo não é: o cão está a roer um sapato, tira-se-lhe o sapato e dá-se-lhe com ele.
"Então e isso tudo junto treina cães?" - perguntam, voluntariosamente, vocês mais uma vez.
Sim! Treina cães, treina gatos, treina ratazanas, treina cavalos, treina golfinhos, treina girafas, treina hipopótamos...Básicamente se um ser é capaz de aprender por condicionamento operante, pode ser treinado positivamente.
"Ui, qué isso de acondicionamento operante?" - interjeitam os meus adoráveis leitores ( mesmo que à força) novamente.
Querem a explicação comprida ou a curta?
Dou-vos a comprida e no fim faço um "too long, didn't read".
O papá do condicionamento operante foi um senhor chamado Burrhus Frederic Skinner. Apesar do nome, ele de "burros" tinha pouco e após várias experiências (ai o que ele gostava de ratos e pombos) definiu o  procedimento através do qual é modelada uma resposta no animal através de reforço diferencial e aproximações sucessivas como sendo condicionamento operante.
Vamos lá a mais uma tentativa: condicionamento operante é o nome dado ao processo de aprendizagem que aumenta ou diminui a probabilidade de um comportamento mediante as suas consequências. Se a consequência for boa, aumenta a probabilidade, se for punitiva, além de diminuir a probabilidade da ocorrência futura, gera outros efeitos colaterais.
"Ói, mas eu ouvi falar de um Pavlov na escola, é o mesmo tipo?" - insistem vocês uma vez mais.
Não. Esse é outro. O Pavlov e o seu cão baboso vêm à baila quando se fala em Condicionamento Clássico.
Antes que perguntem, eu clarifico já: o conceito de Comportamento Operante difere do conceito de Comportamento Clássico, estudado por Pavlov, porque o primeiro ocorre em um determinado contexto, chamado estímulo discriminativo, e gera um estímulo que afecta a probabilidade dele ocorrer novamente; o segundo é directamente afectado por algum estímulo e é uma reacção fisiológica do organismo, como por exemplo tirar a mão da panela quente, fechar os olhos se nos sopram com força para a "menina do olho".
Vamos tentar mais uma vez com este também? No condicionamento clássico um estimulo neutro passa a ser associado a um estimulo com significado quando apresentado imediatamente antes: campaínha, pimba, comida. Assim o estimulo que era neutro passa a ter significado e o cão baba-se todo quando ouve o trrrriiimmm. A diferença é que o cao não teve de fazer nada para obter a comida, não teve de operar sobre o ambiente e o seu comportamento intencional, como foi inexistente, não teve consequência e portanto não aumentou nem diminuiu a sua probabilidade nenhuma de nenhum comportamento intencional do cão.
Vamos ao "too long, didn't read"?
Condicionamento operante é o que acontece quando o cão senta mais vezes porque lhe damos um biscoito quando ele mete o rabo no chão e se deita menos vezes porque esse comportamento não dá direito a biscoito nem a nada que ele valorize.
Ora... porque é que raio é que eu escrevi isto tudo?
Ah sim, era só para dizer que quando for grande quero ser uma treinadora positiva. Isso.


E, em honra à minha professora Sara, vou partilhar também esta pérola:

3 comentários:

Nuno Santos disse...

Pergunta à futura treinadora:
Então, se todos os seres capazes de aprender por condicionamento operante podem ser treinados pelo método de treino positivo, e partindo do presuposto que os humanos têm essa capacidade, quer dizer que posso "treinar" uma criança ou um adulto com "treino positivo"?

Alailanible disse...

Oh yeah baby!
Porque é que achas que os homens se queixam que as mulheres usam o sexo como arma? Tem tudo a ver com o controlo do reforço positivo e com a sua valorização. Além disso normalmente elas metem-nos rapidamente em esquema de reforço intermitente o que ainda torna os comportamentos mais resistentes à extinção.

Iamwe disse...

Espera, espera: http://youtu.be/teLoNYvOf90?t=5m45s